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Falar de transtorno alimentar vai muito além de comentar sobre hábitos alimentares, peso ou dieta. Por trás desses quadros, muitas vezes complexos e silenciosos, existe um conflito, com o corpo, com a própria história e com a forma como o sujeito se sente no mundo.

Nem sempre esse sofrimento aparece de forma clara, e é justamente aí que a psicanálise oferece uma escuta diferente, mais profunda e desacelerada.

Afinal, o que leva alguém a parar de comer, comer demais ou se punir após comer? Que lugar a comida ocupa na vida psíquica de alguém? 

O transtorno alimentar, para a psicanálise, não é um inimigo a ser combatido, mas uma espécie de mensagem cifrada que precisa ser ouvida e compreendida. 

Neste artigo, vamos olhar para essa questão com mais delicadeza, atravessando conceitos psicanalíticos e experiências subjetivas, sem fórmulas prontas, mas com escuta e reflexão.

O que são transtornos alimentares?

O transtorno alimentar se trata de uma condição psicológica caracterizada por padrões disfuncionais no comportamento alimentar, onde os mais conhecidos são a anorexia, a bulimia e o transtorno da compulsão alimentar. 

Esses transtornos afetam milhões de pessoas em todo o mundo e possuem causas multifatoriais. Fatores biológicos, psicológicos, sociais e culturais se combinam para desencadear o problema. 

Ainda assim, a simples correção da alimentação ou intervenção farmacológica, por si só, nem sempre é suficiente para a resolução do quadro e é aqui que a psicanálise entra como uma ferramenta terapêutica que busca escutar o sofrimento subjetivo do sujeito por trás do transtorno.

O que está por trás do transtorno alimentar?

Em muitos casos de transtornos alimentares, o alimento deixa de cumprir seu papel biológico e passa a funcionar como uma espécie de mediador emocional.

É como se a comida, ou a ausência dela, se tornasse uma forma de lidar com angústias profundas ou algo que a pessoa talvez nem consiga nomear. Comer ou não comer se transforma, então, em uma forma de dizer o que não se consegue falar com palavras.

No entanto, esses comportamentos, embora visíveis, não contam toda a história. É nesse ponto que a psicanálise se mostra essencial por escutar o que o corpo tenta expressar, o que o sintoma está encobrindo e que dor antiga está aparecendo de outra forma.

Quando o sintoma fala pelo sujeito

Para a psicanálise, o sintoma não é um acidente ou um erro do corpo, é uma criação do sujeito, uma maneira inconsciente de lidar com o sofrimento. Em vez de simplesmente querer eliminá-lo, como se fosse algo externo, a escuta psicanalítica propõe entender o que o sintoma quer dizer.

No caso do transtorno alimentar, o sintoma pode carregar significados ligados à culpa, ao desejo de controle, à sensação de vazio ou até mesmo à tentativa de chamar a atenção para algo que não foi identificado no passado. 

Para alguns, recusar o alimento pode ser uma forma inconsciente de dizer “eu não preciso de ninguém”, para outros, devorar tudo pode significar um grito por preenchimento emocional.

O corpo como palco de conflitos psíquicos

É comum pensarmos no corpo como algo puramente biológico, mas ele também é um lugar para os pensamentos e emoções fluírem. 

Quando as palavras faltam, o corpo fala e, no caso do transtorno alimentar, essa fala pode ser dura, silenciosa ou até violenta.

O emagrecimento extremo na anorexia pode significar uma tentativa inconsciente de apagar o próprio desejo, a bulimia, com seus ciclos de excesso e purgação, pode estar ligada à culpa e à luta entre o prazer e o controle, já a compulsão alimentar pode surgir como uma resposta imediata ao abandono, à solidão ou à frustração.

Nesses contextos, o alimento deixa de apenas nutrir o corpo e passa a ocupar papéis simbólicos como metáfora, consolo, castigo ou resistência, fazendo com que o corpo, por sua vez, vire o cenário onde essas emoções ganham forma.

O papel da psicanálise no tratamento

Tratar o transtorno alimentar com psicanálise não significa ensinar o paciente a comer “certo”. A escuta psicanalítica não está voltada para os alimentos em si, mas para o que eles representam, com uma proposta de investigação e não de correção.

Por isso, ao longo do processo psicanalítico, o analista oferece um espaço onde o sintoma não é rejeitado, mas acolhido como um sinal de algo que precisa ser entendido e o paciente pode falar sem medo, sem julgamento. 

Muitas vezes, é só nesse lugar de escuta que o sujeito consegue, pela primeira vez, se colocar como protagonista da sua própria história.

Com o tempo, o sintoma deixa de ser necessário, porque o indivíduo encontra outras formas de lidar com aquilo que, de fato, o afeta, sem receitas ou prazos. 

Cada análise tem seu ritmo, seu tempo e seus impasses. Mas o que a psicanálise oferece é uma chance de sair do automatismo da dor e começar a elaborar.

A cultura do corpo perfeito e a lógica do desejo

Vivemos em uma sociedade que exalta a performance, o controle e a imagem, com redes sociais que, dia após dia, alimentam um ideal de corpo magro, saudável e feliz que, muitas vezes, não corresponde à realidade. 

Dentro dessa lógica, o corpo vira um projeto a ser aperfeiçoado, um cartão de visitas para o mundo e, geralmente, quem não se adequa, se sente deslocado ou insuficiente.

Não é raro que o transtorno alimentar surja como uma tentativa de se encaixar nesse ideal, mesmo que isso custe a saúde física e mental. 

A psicanálise, por outro lado, convida o sujeito a questionar esse ideal: de onde vem essa cobrança? Esse desejo é realmente seu? O que se busca com esse corpo idealizado?

Ao dar nome ao desejo ou à falta dele, o indivíduo começa a se libertar de exigências que nunca foram verdadeiramente suas e esse é um dos maiores ganhos da análise.

E quando é preciso mais do que a análise?

Em alguns casos, especialmente nos quadros mais graves, o transtorno alimentar exige um cuidado multiprofissional. 

Médicos, nutricionistas e psiquiatras podem e devem atuar em conjunto com o psicanalista para chegar ao melhor resultado com o paciente. 

O trabalho da psicanálise não é excludente. Pelo contrário, ele complementa outras abordagens com sua escuta singular.

O importante é garantir que o sujeito não se sinta sozinho, culpado ou inadequado, e que o tratamento respeite sua singularidade, seus limites e sua história.

Conclusão

O transtorno alimentar não é uma escolha, nem um capricho com o próprio corpo, é uma forma de expressão de um sofrimento que, muitas vezes, começou lá atrás e nunca teve espaço para ser dito. 

A psicanálise oferece um espaço seguro para que o sintoma possa ser ouvido, onde o sujeito pode existir com suas contradições, medos e desejos.

 

Escutar o transtorno alimentar não é apenas buscar a cura é, acima de tudo, permitir que aquele que sofre possa se reconhecer, se nomear e, aos poucos, se transformar.

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