
A relação entre depressão e psicanálise pode ser muito relevante para o tratamento dessa doença que, de acordo com o Ministério da Saúde, é uma das doenças mentais que atinge cerca de 15,5% da população brasileira, afetando pessoas de todas as idades e classes sociais.
Entre os diferentes tratamentos existentes, a psicanálise surge como uma abordagem profunda que oferece uma compreensão diferente da depressão, buscando entender além dos sintomas, as origens psíquicas da doença para promover a transformação do sofrimento em autoconhecimento.
Neste artigo, vamos expor como a psicanálise entende a depressão, quais são os seus diferenciais em relação a outras abordagens terapêuticas e como ela pode ajudar no processo de cura emocional.
O que é a depressão?
A depressão é um transtorno mental que pode gerar alterações no humor, voltado para a tristeza, podendo apresentar também mudanças nos pensamentos e no comportamento do indivíduo.
No entanto, a diferença entre sintomas de depressão e a tristeza em si, é que na depressão o sentimento apresenta uma duração mais prolongada e um impacto significativo no dia a dia da pessoa.
Os principais sintomas da depressão, são:
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Humor deprimido e alterações do afeto: o indivíduo experimenta tristeza constante, com uma redução significativa da capacidade de sentir prazer em atividades que antes eram fonte de satisfação;
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Sintomas físicos: prevalece a falta de energia, lentidão nos movimentos, uma sensação constante de cansaço, variações no padrão de sono, além de modificações no apetite, podendo resultar em ganho ou perda de peso;
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Desempenho cognitivo: pode incluir piora da memória, dificuldade de concentração e insegurança na tomada de decisões
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Pensamentos negativos: tornam difícil para o indivíduo perceber os aspectos positivos do dia a dia, geralmente com pessimismo, negativismo, pensamentos de culpa e baixa autoestima.
Depressão e psicanálise: como é a relação entre elas
Para a psicanálise, a depressão está relacionada à perda. Para Freud a ela tem relação direta com um estado que envolve tristeza, desgosto, inibição e angústia.
Ainda segundo Freud, a depressão é caracterizada por uma identificação inconsciente com o objeto perdido, que resulta em uma severa autocrítica e empobrecimento do ego.
Ou seja, na perspectiva psicanalítica, a depressão envolve uma dinâmica interna de perda de si mesmo, marcada por sentimentos de culpa inconscientes, idealizações e autossabotagem.
Depressão e psicanálise: a importância da escuta do inconsciente
Na psicanálise, o tratamento da depressão não se baseia em respostas prontas, ele está diretamente ligado à busca por explorar conteúdos inconscientes que ajudam a entender os padrões negativos de pensamentos e comportamentos que podem significar a origem da dor.
Por isso, ao longo do processo psicanalítico, a pessoa começa a identificar esses padrões negativos que se repetem e consegue ressignificar eventos passados para elaborar afetos que estavam reprimidos. Isso permite não apenas o alívio dos sintomas, mas uma verdadeira transformação subjetiva.
Depressão e psicanálise: o papel do analista
O psicanalista, nesse contexto, atua como um facilitador do processo de escuta e simbolização. Ele oferece um espaço seguro onde o paciente tem liberdade para explorar o inconsciente, trazendo à tona uma série de acontecimentos que podem estar relacionados à depressão.
Além disso, o psicanalista vai ajudar o indivíduo a dar um novo sentido aos acontecimentos passados, guiando o paciente para um autoconhecimento e trazendo de volta autonomia, visto que a psicanálise aposta na escuta e na construção de sentidos que partem do próprio sujeito.
Através de técnicas usadas pela psicanálise como a livre associação e a interpretação dos sonhos, por exemplo, o analista ajuda o paciente a dar novo sentido à sua história, e com o tempo ele pode restaurar sua capacidade de desejar, amar e viver com mais liberdade.
Mais do que eliminar sintomas, a psicanálise busca promover uma reorganização psíquica, capaz de transformar o sofrimento em potência criativa e vitalidade.
Quando procurar a psicanálise no tratamento da depressão?
A psicanálise não substitui o acompanhamento psiquiátrico, mas pode ser uma grande aliada na construção de um processo terapêutico mais profundo e integrativo.
Além do tratamento com um médico psiquiatra, os pacientes que podem procurar a psicanálise nos seguintes casos:
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Depressão recorrente ou crônica;
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Quando os tratamentos convencionais não surtiram efeito;
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Quando há desejo de compreender a origem do sofrimento;
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Em situações de luto não elaborado, traumas e crises existenciais;
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Como complemento ao tratamento medicamentoso.
Por isso, a escuta sem julgamentos, a possibilidade de entender o passado e a construção de uma narrativa própria são alguns dos elementos que tornam a psicanálise tão poderosa no cuidado com a depressão.
Conclusão
A depressão é um mal que atinge a alma, o corpo e as relações. Enfrentá-la requer coragem, apoio e um espaço seguro para enfrentar aquilo que dói.
Além disso, a psicanálise, ao oferecer uma escuta sensível e profunda, convida o sujeito a resgatar seu desejo, seu lugar no mundo e sua capacidade de criar novos sentidos para a vida.
Se você ou alguém próximo sofre com depressão, saiba que existe um caminho possível e a psicanálise pode ser uma ferramenta eficaz nessa jornada.